Dias 11 a 15

11o dia – 10/04/2012
Nasca (PE) – Paracas (PE): 226 km

Acordei sem despertador as 7:50 fui tomar café sossegado e as 8:45 estava saindo de Nasca. A estrada segue o mesmo padrão dos últimos dias, com exceção que após Ica o transito fica bem mais intenso. Só parei uma vez para esticar as pernas e ver como estava a emenda da corrente. As 11:40 cheguei a Paracas e parei na primeira agencia de viagens que vi e perguntei pelo passeio a Isla Ballestos e uma indicação de hotel. Mesmo tendo as indicações do José é sempre bom ter mais sugestões. Instalei-me no hotel Mar Azul e fechei o passeio (por 25 soles) com eles mesmos.

Fui almoçar no restaurante Bahia, simplesmente excelente. A entrada foi uma espécie de grãos de milho torrados, só que gigantes. Já o prato principal foi lula empanada com fritas e para completar com uma linda vista do mar. Ao sair do restaurante dei uma caminhada e retornei para o hotel rapidamente, pois o sol estava pegando. Descansei por 1,5 horas e conversei com a Carla no MSN. Peguei a moto, abasteci-a e fui em direção sul acompanhando a praia até encontrar uma placa de acesso restrito pois era uma área de reprodução de animais silvestre. Embora a estrada de chão continuasse, não houvesse nenhuma cancela e a minha curiosidade ser grande respeitei a placa e retornei. Neste caminho passei por muitas casas de veraneio dos ricaços de Lima, imagino eu.

Depois fui em direção norte, com uma pausa no monumento da cidade, no alto de uma duna. Muito bonito, vale a parada. Para o norte fui pouco, pois estava de bermuda e camiseta e a estrada é a de ligação a Pisco, com muito transito, achei prudente voltar.

Deixei a moto no hotel e fui caminhar na orla aguardando o por do sol. Embora já tivesse visto o pacífico em outras vezes essa foi a primeira vez que tinha a oportunidade de ver o por do sol. Simplesmente magnífico.

Recolhi a moto para dentro do saguão do hotel conforme combinado. Confesso que deu um certo receio, pois a porta era estreita e de vidro e para ajudar dois degraus para subir, isso fora os dois degraus que haviam para subir na calçada que era alta - ainda bem que a XT é alta. Tomei um banho e fui dar uma volta pelo calçadão a beira mar onde praticamente só andavam gringos de todos os cantos do mundo.






12o dia – 11/04/2012
Paracas (PE) – Puquio (PE): 399 km

Acordei antes do despertador e ao arrumar a mala resolvi fazer uma mudança radical. Inverti as peças sobressalentes e ferramentas do bauleto para os alforjes e levei as roupas, material de higiene e laptop para o baú. Essa nova disposição ficou bem melhor, pois ao chegar nos hotéis passei a me instalar carregando tudo em uma só vez. Na mão direita o bauleto, na mão esquerda o capacete e jaqueta e a tira-colo a bolsa de tanque.

As 7:15 subi para tomar o café da manha com um visual incrível da bahia e as 7:45 estava no saguão aguardando o guia para o passeio as Islas Ballestas. Fomos a pé para o cais e as 8:15 o barco saiu com 39 passageiros, o guia e o comandante. É uma lancha gigante com fileiras de 4 lugares e para impulsionar dois potentes motores de 200 hp. Passamos em frente ao Candelabro, que é uma figura de 30 metros de altura feita na encosta de um morro. Segundo o guia estudiosos afirmam que não foi feito pelo povo nasca apesar da semelhança.

Dali a lancha seguiu em direção as Islas Ballestas, que ficam a 18 quilômetros da costa. O mar estava bem calmo / liso e 30 minutos depois de passarmos pelo Candelabro estávamos nas Islas Ballestas (arcos em espanhol). As ilhas são todas rochosas e possuem inúmeros arcos, cavernas e galerias escavadas pela água do mar. Mas o que mais impressiona é a fauna. O comandante faz diversas manobras durante a volta na ilha de forma que todos podem fotografar muito bem pinguins, gaivotas, gaivotas de bico preto e leões marinhos. Em duas horas estávamos no cais novamente. Vale muito a pena este passeio.

De volta ao hotel coloquei a bagagem na moto e as 10:50 estava na estrada. Segui direto até Nasca, sem paradas, e as 13:30 estava abastecendo no primeiro posto da cidade. Após 30 minutos parado (abastecer, esticar as pernas e “almoçar”) contornei Nasca e acessei a ruta 26A.

A partir daí definitivamente deixei o deserto para trás e comecei a subir a cordilheira novamente, só que desta fez de oeste para leste. A estrada sai de 500 msnm e chega a pouco mais de 4300 msnm em menos de 100 km. Quando estava chegando próximo dos 3600 msnm entrei em uma nuvem densa que começou a molhar a roupa e dificultando muito a visão. Coloquei mais roupas e a capa de chuva e desta forma não passei frio.

Assim que cheguei ao Parque Nacional Pampas Galeras a estrada passou a ficar cheia de buracos e foi assim até Puquio.  A nuvem densa virou chuva, que junto com a neblina, a quantidade enorme de curvas e muitas pedras na pista e os buracos tornou a viagem lenta, tanto que cheguei a Púquio somente as 17:15. Mesmo com todos esses ingredientes que deixariam qualquer viagem de moto estressante eu curti muito, pois o visual é lindo, com grandes penhascos, montanhas e muitas flores roxas na beira da estrada.

Dei uma rápida volta pela cidade e parei no Hostel El Eden. Simples mas bom e com um pátio fechado do outro lado da rua para guardar a moto.

Diferente de praticamente todas as cidades que havia passado até agora na viagem Puquio não tem poeira nem barro, pois todas as ruas são calçadas em concreto. Todas estreitas, em ladeira e com um fluxo frenético de tuc-tucs (aqueles triciclos característicos do Peru). Na minha pernada (que sempre faço em minhas viagens nas cidades que chego) não encontrei locutório que fizesse ligação para o Brasil e a internet das lan houses não estavam funcionando. Pela primeira vez utilizei o celular para falar com a minha mulher, não quero nem ver conta.....

As mudanças climáticas do dia merecem um parágrafo exclusivo, pois quando sai de Paracas a temperatura estava em 25oC e com poucas nuvens no céu. Ao passar por Ica o céu limpou e a temperatura foi aumentando gradativamente chegando aos 37oC em Nasca. Assim que contornei Nasca a cerração apareceu e pouco depois estava chovendo muito. Com a altitude e a chuva a temperatura despencou para os 7,8oC em menos de 1 hora. Em Puquio já não estava mais chovendo mas a temperatura manteve-se baixa.







13o dia – 12/04/2012
Puquio (PE) – Cusco (PE): 515 km

Sai as 7:30 em direção ao centro para comprar luvas, pois apesar das luvas impermeáveis que usei ontem as minhas luvas de couro umedeceram. Depois de parar em algumas lojas encontrei um par de luvas de courino revestidas com lã sintética que saíram por 12 soles. Não era nenhuma maravilha, mas com certeza resolveriam.

No retorno ao hostel parei para tomei café da manha na lanchonete ao lado do hostel, onde por 2 soles foi servido dois mistos quentes e uma xícara de café. Fiz o check out, coloquei a bagagem na moto, abasteci-a e as 8:40 estava na estrada.

A temperatura estava 6oC e o céu parcialmente nublado, porém poucos quilômetros depois começou uma pequena chuva. Como estava preparado não passei nem frio e nem me molhei. Uns 40 quilômetros de Puquio comecei a ver algumas pedras de gelo na pista, fiquei intrigado mas a minha conclusão é que estava nevando mais  frente e estas pedras estavam sobre algum caminhão e foram caindo no caminho. Quando o GPS marcou 4200 msnm tudo ficou branco. Não estava nevando mas pela quantidade de neve acumulada imagino que deve ter nevado muito a noite, principalmente na região da cidade de Negromayo. Apesar da neve não passei frio, exceto no rosto, pois a viseira estava embaçando forçando-me a deixá-la entreaberta.

A estrada continuava com algumas pedras e buracos, agora com pedras de gelo e muito lisa me obrigando a andar bem devagar. Não preciso nem dizer que fiz inúmeras paradas para tirar fotos.

Em Abancay abasteci e fiquei surpreso com a quantidade de lama nas ruas da cidade. Ao sair da cidade comecei a subir novamente e posso dizer que estrada estava um caos. Além de alguns buracos, muita água escorria das encostas e em vários pontos corriam verdadeiros rios sobre a estrada, alguns com mais de 20 centímetros de profundidade. Para completar havia muitos desmoronamentos e uma película de barro sobre a pista deixando-a muito lisa. Este cenário me acompanhou por um pouco mais de 40 quilômetros.

A 50 quilômetros de Himatambo a estrada consegue ficar pior ainda, a ponto de desaparecer por completo ficando somente saimbro e sem avisos. Essa situação vai até Himatambo, depois disso a estrada volta a ficar boa.

Em Nasca quando estava revendo o meu planejamento imaginei dormir em Himatambo por ser mais barato e no dia seguinte completar o trajeto chegando junto a da Carla em Cusco, mas a cidade não tem nada. Não sou fresco e durmo em qualquer lugar, mas o mínimo de higiene ter que existir e a única hospedagem da cidade não atendia este requisito básico e por isso resolvi tocar até Cusco mesmo sabendo que pegaria uns 20 minutos de estrada a noite, que na prática acabaram sendo 40 minutos. Da mesma forma que no dia anterior, todos os percalços da estrada não tiraram a beleza e prazer da viagem – sem dúvida alguma percorrer os 683 quilômetros entre Nasca e Cusco é uma experiência fantástica e se em algum outro momento eu passar pelo Peru vou refazer este trajeto.

A minha reserva, aquela feita ainda em Curitiba, era no Los Portales Hoteles e quando cheguei a Plaza de Armas (após quase 1 hora de transito caótico) perguntei pelo hotel. Segui as instruções e rapidamente cheguei ao hotel, mas a recepcionista disse que não havia reserva alguma. Fiquei bem preocupado mas graças a Deus felizmente logo tudo ficou esclarecido, eu estava no Los Portales Hotel. A recepcionista me explicou como chegar ao hotel correto a apenas 8 quadras de onde eu estava.

Finalmente as 19:50 cheguei ao hotel, fiz o check in e levei mais 20 minutos para guardar a moto, pois o local que havia combinado no ato da reserva para guardar a moto estava cheio de objetos. Fizemos (eu e mais 5 funcionários do hotel) uma operação de guerra para livrar a porta de acesso e finalmente consegui guardar a moto. Instalei-me confortavelmente, tomei um banho e fui a pé até a Plaza de Armas (a 3 quadras do hotel) onde jantei uma deliciosa pizza de peperoni.







14o dia – 13/04/2012
Cusco (PE): 0 km

A única tarefa obrigatória que tinha para o dia era ir a uma lavanderia e foi o que fiz assim que saí do hotel. Deixada as roupas para lavar fiz um city tour a pé pelo centro histórico muito calmamente. Ao todo visitei as 11 igrejas do centro histórico, muitos monumentos, praças e atrações arqueológicas - a cidade é muito bonita e movimentada. Depois de muito ler muitos relatos de pessoas elogiando a Plaza de Armas de Cusco confesso que esperava mais. Ela é bonita, mas em minha opinião a de Arequipa dá de 10 a zero. Na rua onde está localizada a pedra dos doze ângulos dá para ver claramente a diferença entre uma construção Inca e uma espanhola, os Incas davam um show, os encaixes são simplesmente perfeitos.

Para almoçar optei pelo restaurante La Estancia El Inca (na Plaza de Armas) onde a comida é muito boa e a música (ao vivo) melhor ainda. O prato escolhido foi alpaca grelhada. Após o almoço caminhei mais um pouco pela cidade, voltei para o hotel e fiquei aguardando, muito ansioso, a chegada da Carla. Colocamos o papo em dia e fomos a Plaza de Armas para que ela conhecesse e também para jantar no mesmo restaurante que almocei, uma pena que os músicos não apareceram – fiquei muito decepcionado. Depois do jantar fomos a mais algumas lojinhas e no retorno para o hotel passei pela lavanderia pegar as minhas roupas.






15o dia – 14/04/2012
Cusco (PE): 0 km

Como os passeios pelos sítios arqueológicos estavam marcados para a tarde descansamos um pouco mais que o habitual. Após o café saímos para caminhar pelo centro histórico e fazer algumas comprinhas. E aí fica a dica, tudo é praticamente a metade do preço no Centro de Artesanato de Cusco, na calle El sol a 5 quadras da Plaza de Armas. Vale a caminhada.

As 12:45 a van passou para nos pegar e fomos visitar os sítios arqueológicos de Cusco. Ap primeira parada foi em Sacsayhuanám, onde o tamanho das pedras e a perfeição dos encaixas impresionam. Ele fica no alto de uma montanha praticamente dentro de Cusco, por isso a vista da cidade é muito legal. A guia nos acompanhou neste dia, ao contrário de todos que tinha pego até agora, era muito ruim, falava somente o necessário e com mal humor estampado na cara – até mereceu uma reclamação do escrito quando retornei ao hotel.

Ficamos em torno de 40 minutos neste sítio e fomos em direção ao sítio arqueológico Qenqo, uma espécie de espaço religioso. Retornamos a van e fomos Puca Pucará. Estas ruínas tinham a função de aduanas do império Inca. Não é uma construção muito grande e não chamou muito a minha atenção. Fiquei mais encantado com o visual do vale logo abaixo das ruínas, tanto que tirei mais fotos do vale do que das ruínas. O último sítio arqueológico visitado fora da cidade Cusco foi o Tambomachay (também conhecido como Bano Del Inca). Ele está localizado a 3850 msnm e é uma espécie de fonte. Há uma construção muito bonita e conservada na encosta de um pequeno morro e em alguns pontos há fontes com muita água correndo dela. Neste ponto a guia comprovou como era ruim, pois virou as costas e deixou parte do grupo para trás – duas senhoras que estavam andando devagar, minha mulher e eu que resolvemos ajudá-las a andar sobre o caminho de pedras. Quando chegamos na van a guia só faltou nos xingar.

Quando começamos a retornar a Cusco o tempo começou a ficar muito fechado e quando chegamos a Catedral o céu estava totalmente preto. Entramos na igreja e fizemos uma visita parcial pois a guia pulou parte dos ambientes abertos a visitação. A igreja é muito bonita, uma pena que não é permitido fotografar. Quando saímos o mundo estava caindo! Compramos duas capas de chuva de um garoto que estava faturando muito bem, pois todos estavam ávidos por capas. Entramos na van e demoramos quase 40 minutos para chegar ao convento Santo Domingo / sítio arqueológico Qorikancha, a apenas 3 quadras de distância. Esse convento foi a construção espanhola que mais gostei em Cusco. De todos os passeios do dia esse foi o que mais me impressionou, principalmente pela perfeição das construções incas, embora tenha restado pouca coisa pois o convento foi construído sobre as estruturas Incas.

Ao sair optamos ir a pé para hotel, pois ele fica a uma quadra de distância mesmo com chuva muito intensa e o friozinho da noite (em torno de 12oC). Não estávamos a fim de ficar presos na por mais meia hora na van para dar a volta no quarteirão. Tomamos um banho, jantamos no hotel e fomos arrumar as malas para o dia seguinte.