Nasca (PE) – Paracas (PE): 226 km
Acordei sem
despertador as 7:50 fui tomar café sossegado e as 8:45 estava saindo de Nasca.
A estrada segue o mesmo padrão dos últimos dias, com exceção que após Ica o
transito fica bem mais intenso. Só parei uma vez para esticar as pernas e ver
como estava a emenda da corrente. As 11:40 cheguei a Paracas e parei na
primeira agencia de viagens que vi e perguntei pelo passeio a Isla Ballestos e uma
indicação de hotel. Mesmo tendo as indicações do José é sempre bom ter mais sugestões.
Instalei-me no hotel Mar Azul e fechei o passeio (por 25 soles) com eles
mesmos.
Fui almoçar
no restaurante Bahia, simplesmente excelente. A entrada foi uma espécie de
grãos de milho torrados, só que gigantes. Já o prato principal foi lula
empanada com fritas e para completar com uma linda vista do mar. Ao sair do
restaurante dei uma caminhada e retornei para o hotel rapidamente, pois o sol
estava pegando. Descansei por 1,5 horas e conversei com a Carla no MSN. Peguei
a moto, abasteci-a e fui em direção sul acompanhando a praia até encontrar uma
placa de acesso restrito pois era uma área de reprodução de animais silvestre.
Embora a estrada de chão continuasse, não houvesse nenhuma cancela e a minha
curiosidade ser grande respeitei a placa e retornei. Neste caminho passei por muitas
casas de veraneio dos ricaços de Lima, imagino eu.
Depois fui
em direção norte, com uma pausa no monumento da cidade, no alto de uma duna.
Muito bonito, vale a parada. Para o norte fui pouco, pois estava de bermuda e
camiseta e a estrada é a de ligação a Pisco, com muito transito, achei prudente
voltar.
Deixei a
moto no hotel e fui caminhar na orla aguardando o por do sol. Embora já tivesse
visto o pacífico em outras vezes essa foi a primeira vez que tinha a
oportunidade de ver o por do sol. Simplesmente magnífico.
Recolhi a
moto para dentro do saguão do hotel conforme combinado. Confesso que deu um
certo receio, pois a porta era estreita e de vidro e para ajudar dois degraus
para subir, isso fora os dois degraus que haviam para subir na calçada que era
alta - ainda bem que a XT é alta. Tomei um banho e fui dar uma volta pelo
calçadão a beira mar onde praticamente só andavam gringos de todos os cantos do
mundo.
Paracas (PE) – Puquio (PE): 399 km
Acordei
antes do despertador e ao arrumar a mala resolvi fazer uma mudança radical.
Inverti as peças sobressalentes e ferramentas do bauleto para os alforjes e
levei as roupas, material de higiene e laptop para o baú. Essa nova disposição
ficou bem melhor, pois ao chegar nos hotéis passei a me instalar carregando
tudo em uma só vez. Na mão direita o bauleto, na mão esquerda o capacete e
jaqueta e a tira-colo a bolsa de tanque.
As 7:15 subi
para tomar o café da manha com um visual incrível da bahia e as 7:45 estava no
saguão aguardando o guia para o passeio as Islas Ballestas. Fomos a pé para o
cais e as 8:15 o barco saiu com 39 passageiros, o guia e o comandante. É uma
lancha gigante com fileiras de 4 lugares e para impulsionar dois potentes
motores de 200 hp. Passamos em frente ao Candelabro, que é uma figura de 30
metros de altura feita na encosta de um morro. Segundo o guia estudiosos
afirmam que não foi feito pelo povo nasca apesar da semelhança.
Dali a
lancha seguiu em direção as Islas Ballestas, que ficam a 18 quilômetros da
costa. O mar estava bem calmo / liso e 30 minutos depois de passarmos pelo
Candelabro estávamos nas Islas Ballestas (arcos em espanhol). As ilhas são
todas rochosas e possuem inúmeros arcos, cavernas e galerias escavadas pela
água do mar. Mas o que mais impressiona é a fauna. O comandante faz diversas manobras
durante a volta na ilha de forma que todos podem fotografar muito bem pinguins,
gaivotas, gaivotas de bico preto e leões marinhos. Em duas horas estávamos no
cais novamente. Vale muito a pena este passeio.
De volta ao
hotel coloquei a bagagem na moto e as 10:50 estava na estrada. Segui direto até
Nasca, sem paradas, e as 13:30 estava abastecendo no primeiro posto da cidade. Após
30 minutos parado (abastecer, esticar as pernas e “almoçar”) contornei Nasca e
acessei a ruta 26A.
A partir
daí definitivamente deixei o deserto para trás e comecei a subir a cordilheira
novamente, só que desta fez de oeste para leste. A estrada sai de 500 msnm e
chega a pouco mais de 4300 msnm em menos de 100 km. Quando estava chegando
próximo dos 3600 msnm entrei em uma nuvem densa que começou a molhar a roupa e
dificultando muito a visão. Coloquei mais roupas e a capa de chuva e desta
forma não passei frio.
Assim que
cheguei ao Parque Nacional Pampas Galeras a estrada passou a ficar cheia de
buracos e foi assim até Puquio. A nuvem
densa virou chuva, que junto com a neblina, a quantidade enorme de curvas e
muitas pedras na pista e os buracos tornou a viagem lenta, tanto que cheguei a
Púquio somente as 17:15. Mesmo com todos esses ingredientes que deixariam
qualquer viagem de moto estressante eu curti muito, pois o visual é lindo, com
grandes penhascos, montanhas e muitas flores roxas na beira da estrada.
Dei uma
rápida volta pela cidade e parei no Hostel El Eden. Simples mas bom e com um
pátio fechado do outro lado da rua para guardar a moto.
Diferente
de praticamente todas as cidades que havia passado até agora na viagem Puquio não
tem poeira nem barro, pois todas as ruas são calçadas em concreto. Todas
estreitas, em ladeira e com um fluxo frenético de tuc-tucs (aqueles triciclos
característicos do Peru). Na minha pernada (que sempre faço em minhas viagens
nas cidades que chego) não encontrei locutório que fizesse ligação para o
Brasil e a internet das lan houses não estavam funcionando. Pela primeira vez
utilizei o celular para falar com a minha mulher, não quero nem ver conta.....
As mudanças
climáticas do dia merecem um parágrafo exclusivo, pois quando sai de Paracas a
temperatura estava em 25oC
e com poucas nuvens no céu. Ao passar por Ica o céu limpou e a temperatura foi
aumentando gradativamente chegando aos 37oC
em Nasca. Assim que contornei Nasca a cerração apareceu e pouco depois estava
chovendo muito. Com a altitude e a chuva a temperatura despencou para os 7,8oC em menos de 1 hora. Em
Puquio já não estava mais chovendo mas a temperatura manteve-se baixa.
13o dia – 12/04/2012
Puquio (PE) – Cusco (PE): 515 km
Sai as 7:30
em direção ao centro para comprar luvas, pois apesar das luvas impermeáveis que
usei ontem as minhas luvas de couro umedeceram. Depois de parar em algumas
lojas encontrei um par de luvas de courino revestidas com lã sintética que
saíram por 12 soles. Não era nenhuma maravilha, mas com certeza resolveriam.
No retorno ao
hostel parei para tomei café da manha na lanchonete ao lado do hostel, onde por
2 soles foi servido dois mistos quentes e uma xícara de café. Fiz o check out,
coloquei a bagagem na moto, abasteci-a e as 8:40 estava na estrada.
A
temperatura estava 6oC e o
céu parcialmente nublado, porém poucos quilômetros depois começou uma pequena
chuva. Como estava preparado não passei nem frio e nem me molhei. Uns 40 quilômetros
de Puquio comecei a ver algumas pedras de gelo na pista, fiquei intrigado mas a
minha conclusão é que estava nevando mais
frente e estas pedras estavam sobre algum caminhão e foram caindo no
caminho. Quando o GPS marcou 4200 msnm tudo ficou branco. Não estava nevando
mas pela quantidade de neve acumulada imagino que deve ter nevado muito a
noite, principalmente na região da cidade de Negromayo. Apesar da neve não
passei frio, exceto no rosto, pois a viseira estava embaçando forçando-me a deixá-la
entreaberta.
A estrada continuava com
algumas pedras e buracos, agora com pedras de gelo e muito lisa me obrigando a
andar bem devagar. Não preciso nem dizer que fiz inúmeras paradas para tirar
fotos.
Em Abancay
abasteci e fiquei surpreso com a quantidade de lama nas ruas da cidade. Ao sair
da cidade comecei a subir novamente e posso dizer que estrada estava um caos.
Além de alguns buracos, muita água escorria das encostas e em vários pontos
corriam verdadeiros rios sobre a estrada, alguns com mais de 20 centímetros de
profundidade. Para completar havia muitos desmoronamentos e uma película de
barro sobre a pista deixando-a muito lisa. Este cenário me acompanhou por um
pouco mais de 40 quilômetros.
A 50
quilômetros de Himatambo a estrada consegue ficar pior ainda, a ponto de
desaparecer por completo ficando somente saimbro e sem avisos. Essa situação
vai até Himatambo, depois disso a estrada volta a ficar boa.
Em Nasca
quando estava revendo o meu planejamento imaginei dormir em Himatambo por ser
mais barato e no dia seguinte completar o trajeto chegando junto a da Carla em
Cusco, mas a cidade não tem nada. Não sou fresco e durmo em qualquer lugar, mas
o mínimo de higiene ter que existir e a única hospedagem da cidade não atendia
este requisito básico e por isso resolvi tocar até Cusco mesmo sabendo que
pegaria uns 20 minutos de estrada a noite, que na prática acabaram sendo 40
minutos. Da mesma forma que no dia anterior, todos os percalços da estrada não
tiraram a beleza e prazer da viagem – sem dúvida alguma percorrer os 683
quilômetros entre Nasca e Cusco é uma experiência fantástica e se em algum
outro momento eu passar pelo Peru vou refazer este trajeto.
A minha
reserva, aquela feita ainda em Curitiba, era no Los Portales Hoteles e quando
cheguei a Plaza de Armas (após quase 1 hora de transito caótico) perguntei pelo
hotel. Segui as instruções e rapidamente cheguei ao hotel, mas a recepcionista
disse que não havia reserva alguma. Fiquei bem preocupado mas graças a Deus
felizmente logo tudo ficou esclarecido, eu estava no Los Portales Hotel. A
recepcionista me explicou como chegar ao hotel correto a apenas 8 quadras de
onde eu estava.
Finalmente
as 19:50 cheguei ao hotel, fiz o check in e levei mais 20 minutos para guardar
a moto, pois o local que havia combinado no ato da reserva para guardar a moto
estava cheio de objetos. Fizemos (eu e mais 5 funcionários do hotel) uma
operação de guerra para livrar a porta de acesso e finalmente consegui guardar
a moto. Instalei-me confortavelmente, tomei um banho e fui a pé até a Plaza de
Armas (a 3 quadras do hotel) onde jantei uma deliciosa pizza de peperoni.
14o dia – 13/04/2012
Cusco (PE): 0 km
A única
tarefa obrigatória que tinha para o dia era ir a uma lavanderia e foi o que fiz
assim que saí do hotel. Deixada as roupas para lavar fiz um city tour a pé pelo
centro histórico muito calmamente. Ao todo visitei as 11 igrejas do centro
histórico, muitos monumentos, praças e atrações arqueológicas - a cidade é
muito bonita e movimentada. Depois de muito ler muitos relatos de pessoas
elogiando a Plaza de Armas de Cusco confesso que esperava mais. Ela é bonita,
mas em minha opinião a de Arequipa dá de 10 a zero. Na rua onde está localizada
a pedra dos doze ângulos dá para ver claramente a diferença entre uma
construção Inca e uma espanhola, os Incas davam um show, os encaixes são
simplesmente perfeitos.
Para
almoçar optei pelo restaurante La Estancia El Inca (na Plaza de Armas) onde a
comida é muito boa e a música (ao vivo) melhor ainda. O prato escolhido foi
alpaca grelhada. Após o almoço caminhei mais um pouco pela cidade, voltei para
o hotel e fiquei aguardando, muito ansioso, a chegada da Carla. Colocamos o
papo em dia e fomos a Plaza de Armas para que ela conhecesse e também para
jantar no mesmo restaurante que almocei, uma pena que os músicos não apareceram
– fiquei muito decepcionado. Depois do jantar fomos a mais algumas lojinhas e
no retorno para o hotel passei pela lavanderia pegar as minhas roupas.
Cusco (PE): 0 km
Como os
passeios pelos sítios arqueológicos estavam marcados para a tarde descansamos
um pouco mais que o habitual. Após o café saímos para caminhar pelo centro
histórico e fazer algumas comprinhas. E aí fica a dica, tudo é praticamente a
metade do preço no Centro de Artesanato de Cusco, na calle El sol a 5 quadras
da Plaza de Armas. Vale a caminhada.
As 12:45 a
van passou para nos pegar e fomos visitar os sítios arqueológicos de Cusco. Ap
primeira parada foi em Sacsayhuanám, onde o tamanho das pedras e a perfeição
dos encaixas impresionam. Ele fica no alto de uma montanha praticamente dentro
de Cusco, por isso a vista da cidade é muito legal. A guia nos acompanhou neste
dia, ao contrário de todos que tinha pego até agora, era muito ruim, falava
somente o necessário e com mal humor estampado na cara – até mereceu uma
reclamação do escrito quando retornei ao hotel.
Ficamos em
torno de 40 minutos neste sítio e fomos em direção ao sítio arqueológico Qenqo,
uma espécie de espaço religioso. Retornamos a van e fomos Puca Pucará. Estas
ruínas tinham a função de aduanas do império Inca. Não é uma construção muito
grande e não chamou muito a minha atenção. Fiquei mais encantado com o visual
do vale logo abaixo das ruínas, tanto que tirei mais fotos do vale do que das ruínas.
O último sítio arqueológico visitado fora da cidade Cusco foi o Tambomachay
(também conhecido como Bano Del Inca). Ele está localizado a 3850 msnm e é uma
espécie de fonte. Há uma construção muito bonita e conservada na encosta de um
pequeno morro e em alguns pontos há fontes com muita água correndo dela. Neste
ponto a guia comprovou como era ruim, pois virou as costas e deixou parte do
grupo para trás – duas senhoras que estavam andando devagar, minha mulher e eu
que resolvemos ajudá-las a andar sobre o caminho de pedras. Quando chegamos na
van a guia só faltou nos xingar.
Quando
começamos a retornar a Cusco o tempo começou a ficar muito fechado e quando
chegamos a Catedral o céu estava totalmente preto. Entramos na igreja e fizemos
uma visita parcial pois a guia pulou parte dos ambientes abertos a visitação. A
igreja é muito bonita, uma pena que não é permitido fotografar. Quando saímos o
mundo estava caindo! Compramos duas capas de chuva de um garoto que estava
faturando muito bem, pois todos estavam ávidos por capas. Entramos na van e
demoramos quase 40 minutos para chegar ao convento Santo Domingo / sítio
arqueológico Qorikancha, a apenas 3 quadras de distância. Esse convento foi a
construção espanhola que mais gostei em Cusco. De todos os passeios do dia esse
foi o que mais me impressionou, principalmente pela perfeição das construções
incas, embora tenha restado pouca coisa pois o convento foi construído sobre as
estruturas Incas.
Ao sair
optamos ir a pé para hotel, pois ele fica a uma quadra de distância mesmo com
chuva muito intensa e o friozinho da noite (em torno de 12oC). Não estávamos a fim de ficar presos na por mais meia
hora na van para dar a volta no quarteirão. Tomamos um banho, jantamos no hotel
e fomos arrumar as malas para o dia seguinte.